Pretérito


Quando eu era adolescente eu ia no dentista na Vila Cruzeiro. Um dia na volta o motorista parou porque viu uma confusão na frente e logo pessoas apareceram falando que traficantes estavam queimando todos os ônibus que passavam. Minha primeira reação foi querer que o motorista continuasse e tentasse a sorte. Eu queria chegar logo em casa. Eu não compreendia que podia morrer, mas não era só isso. Era como se o meu destino fosse ter um futuro onde tudo daria certo. Agora que estou no futuro sei que algumas coisas deram certo e outras não. Claro que acredito que posso continuar lutando para transformar aquilo que não deu certo. Mas o que me impressiona é como essa ilusão, que somos determinados para um futuro sombrio ou brilhante, é presente na juventude e também em vários momentos ao logo da vida. A vida real é muito mais cheia de reviravoltas, nada pode ser realmente calculado. Se fosse uma luta de boxe você nem venceria, nem perderia por nocaute. Ficaria lutando sem descanso e sem chance do treinador jogar a toalha. E o fim não ocorreria no clímax dramático, mas num corte seco e inesperado que garantiria uma total falta de sentido.

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