Solidão
Uma das maiores experiências que tive de solidão foi na minha primeira viagem para Argentina. Voltando pro hostel de um bar de madrugada andei durante meia hora várias quadras sem ver nenhum ser humano pelo bairro de Palermo. Não tinha medo de assalto nem nada. Mas aquelas ruas escuras, aquela linda arquitetura me dava uma sensação de que por um minuto todos poderiam ter desaparecido mesmo. Toda humanidade. Que só sobraria no mundo minha contemplação e que isso era bom. Foi uma viagem, uma onda, um impacto sensível, uma obra de arte que me seduziu profundamente no melhor estilo "l'enfer c'est les autres". A verdadeira essência do homem é solidão e eu finalmente tinha conseguido experimentar essa verdade. A solidão do último segundo de vida, do último suspiro antes da morte, era finalmente minha. Quem diria, a sensação de solidão não viria pela imensidão, pelo deserto, pelo nada. Mas numa madrugada pela cidade, pelo concreto dos prédios. Ah... a cidade é esse tesão que eu não consigo parar de desejar. É a expressão perfeita das possibilidades inesgotáveis da vida!
"Minha solidão, que, como sobre montes muito altos, com freqüência provocou-me falta de ar e fez-me o sangue refluir, é ao menos agora uma dualidão." - Nietzsche falando sobre Espinosa (Carta para Franz Overbeck- 30 de julho de 1881).
"O pensamento é um estar-só, mas não é solidão; o estar-só é uma situação em que me faço companhia." - Hannah Arendt (A Vida do Espírito).
"A pior solidão que existe é darmo-nos conta de que as pessoas são idiotas." - Gonzalo Torrente Ballester
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