Pós


Fiz meu ensino médio no Colégio Pedro II na época do governo FHC e uma das principais lutas (inclusive vitoriosa) dos estudantes secundaristas era pelo passe livre. No Pedro II conheci professores que me influenciaram no caminho da filosofia e das ciências humanas e adquiri consciência política. Em especial sobre a luta pela educação pública no país. Nunca esqueço uma reunião do grêmio, em que se votava se os alunos continuariam ou não apoiando a greve (maior da história até então) dos professores. Um aluno mais velho apontou para uma bandeira onde estava escrito "educação pública e de qualidade" e afirmou que aquela era a luta dele. Naquele momento meus olhos brilharam e aquela passou a ser minha luta também. Depois passei para filosofia na UFRJ. Eu entrei no IFCS em 2003, ao mesmo tempo em que começava o primeiro governo de esquerda da história do Brasil: o governo Lula. Uma conquista importante dos estudantes e professores do período foi a volta da filosofia e da sociologia como matérias obrigatórias do ensino médio. Acredito que a geração que eu fiz parte foi uma das primeiras de estudantes do subúrbio nas universidades federais. A universidade pra mim significava uma grande abertura pro mundo. Algo que me transformou para sempre. Depois virei professor, dei aula em vários lugares, fiz mestrado e agora (2019) estou no doutorado. Eu fico pensando com seria voltar no tempo e contar para aquele Jorge, estudante do Pedro II, que o que ele sonhava para o Brasil se realizaria em parte, mas que depois uma escuridão profunda consumiria tudo. Que o justo, o bom e o melhor do mundo seriam destruídos pelo ódio. Por tudo isso, sinto que vivo uma tragédia profundamente pessoal.

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